Rui Mourão ‘Smoke Kiss’

Instalação vídeo de Rui Mourão, de 2 a 23 de Novembro de 2011.

Texto de Rui Mourão
“É já minha praxis habitual tomar imagens de movimentos humanos de carácter quotidiano, real, minimal, para a partir daí, via edição, criar uma espécie de videocoreografias performáticas com outros sentidos metafóricos.

Smoke Kiss é um trabalho sobre a distância e os afectos, a partir de um jogo de imagens. Imagens de 2 rapazes projetados em 1 plano sobreposto, imagens de 1 paisagem em 2 projeções diferentes, imagens de 2 margens em cada 1 das projeções. O resultado é uma videoinstalação de tripla projeção com diferentes composições geométricas que formam um todo formal e conceptual, expressamente pensado para o Atelier Concorde. (…)”

Desde o primeiro momento que, para mim, dos elementos mais marcantes na percepção do espaço, foram as linhas cruzadas das traves do teto na sala expositiva, que quis integrar visualmente na instalação do trabalho. Nesse sentido, os vídeos foram projetados de forma às linhas geométricas que definem os contornos de luz das imagens poderem dialogar diretamente com as linhas cruzadas do teto. Linhas das imagens e linhas da arquitectura encontram-se paralelas e transversais umas às outras.

Embora a obra não seja sobre homossexualidade, essa temática está também presente pela fusão imagética dos dois rapazes, evocativa de um desejo. Embora isoladamente apenas se encontrem a realizar pequenas atividades banais, na instalação, através da edição de vídeo, as suas imagens sobrepostas ganham subtis conotações sexuais.

Como tal, para além da óbvia dimensão privada, há também uma dimensão pública. Em primeiro lugar pela simples opção de fazer do desejo de uma minoria sexual um objecto de trabalho artístico. Em segundo lugar pela própria composição dos planos de vídeo, em que os jovens enamorados aparecem contextualizados pela paisagem urbana que os rodeia, num claro confronto entre a sua intimidade e o espaço público aberto.

Desenha-se assim um jogo de projeções com linhas de imagens justapostas, que simultaneamente afastam e integram o individual e o coletivo, metáfora de um posicionamento político que de forma imaterial se projeta sexual e socialmente na esfera pública.


Rui Mourão (Lisboa, 1977), estudou fotografia e arte contemporânea na Universitat Autònoma de Barcelona e interpretação / cinema no Centre d’Estudis Cinematogràfics de Catalunya (Barcelona). Estudou artes visuais na Escola de Artes Visuais Maumaus (Lisboa) e na Konsthögskolan i Malmö / Malmö Art Academy (Malmö, Suécia). Atualmente frequenta uma pós-graduação em “Culturas Visuais Digitais” no ISCTE (Lisboa). Fez colaborações artísticas para Coco Fusco (2002) e Erwin Wurm (2008).
Foi selecionado para a mostra nacional Jovens Criadores, secção de vídeo (2006 e 2007), para a Anteciparte – “Uma seleção da mais jovem expressão artística nacional” (2009) e para o FUSO – Anual Internacional de Videoarte de Lisboa (2010) onde recebeu o Prémio do Público no Museu Berardo. Das suas exposições individuais destaca: Rui Mourão / Videoarbeiten / 2005–2010, Rosalux (Berlim, 2010); Por Bem, Palácio Nacional de Sintra (Sintra, 2009); Coup d’Art, CAPC – Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (Coimbra, 2009); A Vida Segue a Um, Sala do Veado, Museu Nacional de História Natural (Lisboa, 2008). Das suas exposições coletivas destaca: Ouvertures d’Ateliers d’Artistes de Marseille, Ateliers de la Ville de Marseille (Marselha, 2011); O Que Passou Continua a Mudar, Plataforma Revólver (Lisboa, 2011); The Garden as a Mirror, Künstlerhaus Bethanien (Berlim, 2010); Anteciparte, Museu do Oriente (Lisboa, 2009); At/By/For/Into/Around The House, P28 (Lisboa, 2008) e Koh-inoor (Copenhaga, 2008); Liquid Room, NCCA – National Center for Contemporary Arts (Moscovo, 2008); Private Office, Espaço Avenida (Lisboa, 2007); After Urban, Monkey Town (Nova Iorque, 2007); Tudo Menos a Palavra?…, Instituto Camões (Lisboa, 2007); LOOP, distritoQuinto (Barcelona, 2007). Dos festivais internacionais de vídeo em que participou destaca: Kurye International Video Festival (Istambul, 2009); LOOP – The Video Art Festival (Barcelona, 2007 e 2008); FRAME (Porto, 2006); International Videodance Festival (Tel Aviv, 2006).

Apoios: IMC – Instituto dos Museus e da Conservação, Associação Agita
Agradecimentos: Diogo Fonseca, Fernando Mourão, Francisca Carvalho, Inês Jacques, José Burgos Montoya, Maria Raposo Mourão, Nestor Pestana, Nuno Almeida Ribeiro, Olga Monteiro, Paula Borges, Rui Tapadinhas, Rui Xavier e Sofia Amaral